domingo, 12 de maio de 2013

PARA ONDE VAI A EDUCAÇÃO?


Livro: “Por que Piaget?”
Editora VOZES, 1998
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PARA ONDE VAI A EDUCAÇÃO?
 “Existem certas condutas muito precoces que devem ser qualificadas de inatas, cuja precocidade não depende de aprendizagem e que, na minha perspectiva, dariam lugar a construções bem ulteriores e, realmente construtivas, isto é, não predeterminadas hereditariamente. Ocorre, contudo e isto me alegrou muito, que nestes casos não há continuidade entre as manifestações iniciais e a reconstruções ulteriores.”
Jean Piaget
“A criança sempre precede o adulto”
J. M. Baldwin
Enquanto o pragmatismo e o sociologismo refletem em termos de adultos (para o pragmatismo o educando é um futuro produtor, enquanto para o sociologismo o educando é, apenas, militante político), para o psicologismo o educando jamais será um cidadão participante do processo social, em seus aspectos políticos e econômicos (trata o educando como uma eterna criança). Cada uma destas concepções deforma, a seu modo, o processo educativo. E o que leva educadores respeitáveis a estas deformações? Ao que parece, falta a estas posições de caráter estritamente ideológico a assimilação de recentes dados fornecidos pela pesquisa científica (psicogenética, epistemologia genética, biologia do processo evolutivo, microssociologia dos agrupamentos, compreensão sistêmica dos processos bio-psico-sociológicos, etc.). Velhas concepções do século XIX aparecem ainda como fundamentação de concepções educativas (teoria das faculdades mentais, instintos, hereditariedade da inteligência, reflexos condicionados, centros de interesse, educação programada, categorias mentais, etc. – vejam-se os programas dos cursos de formação de professores, em alguns dos quais Platão ainda é referencial teórico), não se tendo incorporado à reflexão os dados atuais da biologia, psicogenética, microssociologia, etologia, cibernética, etc., etc., etc. Como essas três propostas dispõem de enorme massa de dados verdadeiros (mas não suficientes) cada uma delas pode encastelar-se, indefinidamente, em suas posições com argumentos convincentes. Todo reducionismo é, por natureza, absolutista. Que contribuição o relativismo piagetiano pode dar a estas concepções monolíticas eivadas de emocionalismos, de preconceitos e de obsoletismo? A grande contribuição de J. Piaget à educação, foi fornecer elementos para uma pedagogia científica (a pedagogia apoia-se numa reflexão interdisciplinar). Desenvolvendo uma teoria que concebe os fenômenos bio-psico-sociológicos como construção sequencial, permite relativizar a noção de educando acompanhando seu desenvolvimento, desde o estado embrionário até a inserção no corpo social. O educando, para estas três “pedagogias” reducionistas, é um ser epistêmico definido a partir ou do sistema de produção ou da revolução social ou ainda de um nostálgico mundo ideal romantizado, em que não existe nem sistema de produção nem estrutura de dominação (poder). Ao pragmatista, lembraria J. Piaget que a criança passa por longo período de “esquizofrenia” (formação da função semiótica) em que a realidade tem menos poder “formativo” do que “o jogo simbólico” (fantasia) permanecendo totalmente dependente e incapaz de atentar para a necessidade de aquisição de know-how que garanta a sua sobrevivência. Advertiria ao socilogismo, que além da macrossociologia em que se desenvolve a luta política, existe uma microssociologia (sociedades infanto-juvenis) que prepara – numa espécie de útero sociológico – a assimilação das regras, valores e símbolos da sociedade adulta (durante a longa infância a criança não só não percebe os conflitos sociais como deles está protegida pela fantasia de um mundo irreal, em que todas os desejos podem ser magicamente realizadas). Chamaria a atenção do psicologista para a necessidade de “conquista da objetividade” o longo caminho ontogénico e filogenético da hominização (no sentido em que T. de Chardin usa este termo): a vida é uma equilibração entre o “princípio do prazer” (assimilação) e “princípio da realidade” (acomodação) – para falar numa linguagem freudiana tão a seu gosto...
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