terça-feira, 22 de março de 2016

“É necessário criar uma nova forma de pensar” - Einstein

Temas Piagetianos
Lauro de Oliveira
Editora AO LIVRO TÉCNICO S.A
Indústria e Comércio
Rio de Janeiro – RJ / 1984
“É necessário criar
uma nova forma de pensar”
Einstein

         A 14 de março de 1879, nascia em Ulm, pequena cidade alemã às margens do Danúbio, um menino com a cabeça tão grande e angular que preocupou, consideravelmente, seus familiares. O bebê, que o médico garantiu ser uma criança perfeita, recebeu o nome de Albert Einstein.
         Era como se a História, estivesse unindo o nome de Einstein – precursor de uma nova era – ao de Kepler – artífice da época científica anterior – que morrera nessa mesma cidade de Ulm, berço do maior cientista do século XX – o “Século de Einstein”.
         As teorias einsteinianas provocaram profundas modificações na Física clássica e lhe valeram o Prêmio Nobel de Física, em 1921, pelo seu Efeito Fotoelétrico descrito na Teoria Fotônica da Luz. Mas, acima de tudo, Einstein foi um homem polêmico. Mesmo sendo um pacifista, colaborou para a construção da primeira bomba atômica e, embora acreditasse em Deus, reformulou as leis tidas como eternas. Sua infância também não foi das mais tradicionais. Ele só começou a falar aos três anos de idade e chegou a ouvir de seus professores a vã profecia: “Você nunca chegara a ser coisa alguma na vida”. Entretanto, uma bússola que ele recebeu de presente aos cinco anos de idade e o livro de Geometria de Euclides, já nos 14 anos, despertaram naquele menino uma profunda identidade, com as forças do universo.
         Selecionamos, entre seus pontos de vista, algumas considerações significativas, que transcrevemos a seguir.
         A um estudante:
         - Não se preocupe com as suas dificuldades em matemática. Posso lhe assegurar que as minhas são ainda maiores.
         Sobre a humildade:
- Cada pessoa seriamente empenhada em conquistas científicas se convence da existência de um espírito que preside as leis do universo – um espírito vastamente superior ao do homem e diante do qual nós, com nossos modestos poderes, devemos nos sentir humildes.
         Os prazeres:
         - Não dou a menor importância ao dinheiro. Condecorações, títulos e outras distinções nada significam para mim. Também não vivo a procura de elogios. As únicas coisas que me dão prazer, fora o meu trabalho, o meu barco a vela e o meu violino, são a compreensão e o apreço dos meus colegas cientistas.
Sobre o espírito da ciência
- Sou por natureza inimigo das dualidades. Dois fenômenos ou dois conceitos que parecem diversos me ofendem. Minha mente tem um objetivo supremo: suprimir as diferenças. Assim agindo permaneço fiel ao espirito da ciência que desde o tempo dos gregos, sempre aspirou à unidade. Na vida, como na arte, assim é também. O amor tende a fazer de duas pessoas um único ser. A poesia com o uso perpétuo da metáfora que assimila objetos diversos, pressupõe a identidade de todas as coisas.
         Caso as suas afirmações não se confirmassem:
         - Então eu lamentaria pelo bom Deus, pois a teoria está correta.


EINSTEIN
E PIAGET
         A concepção de tempo, espaço, velocidade, simultaneidade, (conceitos eminentemente físicos) varia ao logo do desenvolvimento da criança, de forma radical, como se em cada estágio do desenvolvimento a criança assumisse a forma de um “Einstein” paleontológico. Certa vez conta Piaget, Einstein (após de ouvir uma das suas conferências) pediu-lhe que investigasse como as crianças concebem, sucessivamente, a simultaneidade e a velocidade. Quando em outro encontro, Piaget transmitiu-lhe os resultados (que, por acaso confirmam as teorias einsteinianas), Einstein empolgado, comentou que a psicologia era ainda mais complexa que a física.
         Ora, essa transitividade da maneira de pensar não foi sequer incorporada pelos psicólogos e educadores, da mesma forma como a maioria dos físicos e matemáticos não incorporaram ainda a teoria da relatividade em sua maneira rotineira de pensar. Serão precisos séculos para que as ideias de Einstein sejam digeridas pela humanidade, em seu dia a dia. O mesmo acontecerá, em ciências humanas, com Jean Piaget, cujo centenário ocorrerá ás vésperas do ano 2000 (ele nasceu a 9 de agosto de 1896, em Neuchâtel, na Suíça)

Abril, 1979 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Por Que Piaget - IX - 4a parte

Lauro de Oliveira Lima
Editado pelo SENAC
São Paulo – 1980

IX – A CONSTRUÇÃO DA INTELIGÊNCIA E A CONQUISTA DA OBJETIVIDADE NA CRIANÇA (ONTOGÊNESE) E NA HUMANIDADE (FILOGÊNESE) –
Uma nova teoria do comportamento e da evolução.

“Chegou o tempo de novas alianças entre a história dos homens,
sua sociedade, seu saber e a aventura da exploração da natureza”
Prioigini (Prêmio Nobel de Física e
I.Strengers, “La Nouvelle Alliance”
Gallimard, 1980.

“Quando se faz uma adição… sabe-se fazer todas as adições”
Jean Piaget



ALGUNS POSTULADOS QUE J. PIAGET PRETENDE TER COMPROVADO:
4ª Parte
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O desenvolvimento da criança (e a evolução das integrações sociais: regras valores e símbolos) é resultado de uma permanente interação entre as estruturas já construídas no sujeito e a realidade (ver a teoria marxista): para cada nível de desenvolvimento mental (estádio) existe um tipo de interpretação da realidade (ver as interpretações “mágicas”, ideológicas, axiomáticas, etc.). O comportamento rebelde do adolescente, por exemplo, em grande parte, é explicado pela conquista das estruturas probabilísticas e hipotético-dedutivas (ver Juventude como motor da história) de Lauro de Oliveira Lima).

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            A evolução (e, por tanto a construção dos modelos socioculturais) resulta do tipo estratégia (comportamento) que os seres vivos usam para ampliar seu espaço vital e aumentar seu nível de segurança frente as agressões do meio (ver Le comportement, moteur de l´evolution, Gallimard, 1976 e Adaptation vitale et psychologie de l´intelligence, Hermann, 1974). Ao contrário do que diz Monod, evoluir é desenvolver-se (equilibração majorante e teoria das flutuações de I. Prigogine) é uma das características do fenômeno vital (para Monod, a evolução resulta, apenas, dos erros de reprodução). A educação, portanto, deve centra-se no comportamento (motor, verbal e mental) e não nos conteúdos: os conteúdos servem, apenas, para provocar, artificialmente, desequilíbrios: cada nível de desenvolvimento equivale a um nível de objetividade (visão da realidade).

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            A realidade chega ao organismo através da atividade (assimilação). Para J. Piaget a atividade de conhecer não se diferencia, funcionalmente, da atividade de “comer”: as estruturas do comportamento (mental, verbal e motor) assemelham-se a verdadeiros órgãos. Ora, como não se vê sem olhos nem se ouve sem ouvidos...também não se compreende (percebe) aquilo que não corresponde a uma estrutura (não se aprende nada inteiramente novo). O “estímulo” só chega ao organismo (mente) se o organismo estiver “sensibilizado” (se houver estruturas mentais a ele adequadas) para percebê-lo (“no começo já estava a resposta” – D.E. Berlyne, Structure and direction in the thinking, N. Y., John Willy Sons, 1955). Mas a cada assimilação correspondem acomodações que criam novas estruturas, diversificando, progressivamente, a capacidade de assimilar (capacidade de “perceber” novos estímulos). Não existem, portanto, os “estímulos” do behaviorismo: a motivação é, simplesmente, o sintoma de um desequilíbrio ou a alimentação natural (forma de estímulos) do funcionamento das estruturas pré-existentes (os olhos precisam ser ativados pela luz e os ouvidos pelo som, etc.). A propaganda só atinge a vítima se ela estiver com necessidade do produto anunciado... doutra forma, as massas depauperadas invadiriam as lojas que vendem “o admirável mundo novo”.

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            Toda atividade corresponde a uma necessidade (e a necessidade é a manifestação de um desequilíbrio ou de uma lacuna: a dúvida, por exemplo, é uma “necessidade” ou “motivação”: dúvida metódica como método didático). O prêmio e o castigo são diversões para que o aluno aprenda aquilo de que não sente necessidade (o conteúdo aprendido sob coação ou mediante estímulo artificial torna-se uma passagem para o aluno alcançar o objeto ou a situação de que tem necessidade: daí a aprendizagem desaparecer no momento seguinte). Toda estrutura constituída tende a alimentar-se (assimilar), de tal forma que, provocado o seu aparecimento, é desnecessário “ensinar”: o indivíduo procura, espontaneamente, o conhecimento...

20

            Toda estrutura em construção (classificação, seriação, partição, deslocamentos, etc.) são fontes de interesse (a dúvida, necessariamente, provoca reflexão, pois a mente não pode ficar em permanente estado de desequilíbrio). Dessa forma, existe uma motivação externa (conseguir um resultado, realizar uma construção, ter êxito – motivação afetiva – etc.), e uma motivação interna (alcançar o equilíbrio de uma estrutura: organização – necessidade de coerência). Entre os reforços propostos pelos behavioristas faltou o “reforço interno”, que é de caráter lógico. 
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