(3a. parte)
Livro: Piaget para Principiantes.
Editora: SUMUS Editorial
O Desenvolvimento da Inteligência Tende para uma
Estruturação Lógico-Matemática (págs.
51 e 52) (3º parte)
... J. Piaget, concordando com Kantor, afirma que, mais que as noções de
“conjunto” devem ser ensinadas (desenvolvidas), nas crianças as intuições
topológicas de onde derivam, geneticamente (reconstrução da arquitetura da
matemática), as “intuições geométricas” (das geometrias projetivas e
euclidiana), com a agravante de estes mecanismos estarem estreitamente, ligados
à “construção do real” (representação do mundo) onde procedem os processos
semióticos (dentre os quais a linguagem
é o mais relevante). Tradicionalmente, a matemática inicia-se por operações
elementares como número e medida (a ponto de os matemáticos
suporem que estas noções eram formas a
priori ou intuições básicas). Ora, não se pode operar sobre algo que não
existe ainda, mentalmente: sem a combinação das noções de classe, série e
correspondência não existe o número (salvo como uma palavra sem sentido) e sem
as noções de contínuo, partição e deslocamento não existe a medida. Jean Piaget demonstra, por
exemplo, que a noção de conservação (entre outras) deriva do grupo dos
deslocamentos e que a conservação é a noção mínima para se poder contar e
medir... Quando a criança domina, operativamente, as noções de número e medida,
está a ponto de alcançar as operações abstratas que predominam nos processos
matemáticos.
O grande problema,
portanto, é a pré-história da matemática. É difícil discutir-se com um
matemático este problema, pois as noções pré-históricas da matemática não
aparecem nos tratados elementares de matemática (e os matemáticos não se dão ao
trabalho de estudar, por exemplo, a “gênese do número”). J. Piaget dedica dois
volumes de quinhentas páginas cada um para descrever a embriologia das
“intuições geométricas”, mostrando como das “homeomorfias” topológicas nascem
as noções projetivas e a métrica euclidiana (o que corresponde, de maneira
notável, às explicações teóricas da construção das geometrias). O grande
trabalho do pedagogo, pois, não é descobrir uma “didática da matemática” (e a
didática da matemática é o próprio método hipotético-dedutivo), mas planejar
atividades didáticas que contribuam para a tomada de consciência de
“embriologia das noções elementares da matemática” (atividade que ocupará um
período de nove anos na vida da criança). A teoria de J. Piaget caracteriza-se
pelo construtivismo (que por sinal é
a forma de inventar a matemática), de modo que, a partir das atividades
sensório-motoras, o pedagogo tem que encontrar processos didáticos que levam à
construção das “noções elementares” da matemática. Quase nada se pode obter
para isto dos matemáticos que partem de “intuições” que só aparecem no final
deste longo período. O mesmo se pode dizer dos lógicos (os lógicos, também, não
se dão ao trabalho de estudar a embriologia das noções elementares da lógica).
O pedagogo, pois, tem que aprender um mínimo de matemática (teórica) para
conduzir o desenvolvimento das crianças até o limiar das noções elementares
usadas pelos matemáticos...
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