Lauro de Oliveira Lima
Editado pelo SENAC
São Paulo – 1980
IX – A CONSTRUÇÃO DA INTELIGÊNCIA E A CONQUISTA DA
OBJETIVIDADE NA CRIANÇA (ONTOGÊNESE) E NA HUMANIDADE (FILOGÊNESE) –
Uma nova teoria do comportamento e da evolução.
“Chegou
o tempo de novas alianças entre a história dos homens,
sua
sociedade, seu saber e a aventura da exploração da natureza”
Prioigini (Prêmio Nobel de Física e
I.Strengers, “La Nouvelle Alliance”
Gallimard, 1980.
“Quando se faz uma
adição… sabe-se fazer todas as adições”
Jean Piaget
ALGUNS POSTULADOS
QUE J. PIAGET PRETENDE TER COMPROVADO:
4ª Parte
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O
desenvolvimento da criança (e a evolução das integrações sociais: regras
valores e símbolos) é resultado de uma permanente interação entre as estruturas
já construídas no sujeito e a realidade (ver a teoria marxista): para cada
nível de desenvolvimento mental (estádio) existe um tipo de interpretação da realidade
(ver as interpretações “mágicas”, ideológicas, axiomáticas, etc.). O
comportamento rebelde do adolescente, por exemplo, em grande parte, é explicado
pela conquista das estruturas probabilísticas e hipotético-dedutivas (ver Juventude como motor da história) de
Lauro de Oliveira Lima).
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A
evolução (e, por tanto a construção dos modelos socioculturais) resulta do tipo
estratégia (comportamento) que os seres vivos usam para ampliar seu espaço
vital e aumentar seu nível de segurança frente as agressões do meio (ver Le
comportement, moteur de l´evolution, Gallimard, 1976 e Adaptation
vitale et psychologie de l´intelligence, Hermann, 1974). Ao contrário
do que diz Monod, evoluir é desenvolver-se (equilibração majorante e teoria das
flutuações de I. Prigogine) é uma das características do fenômeno vital (para
Monod, a evolução resulta, apenas, dos erros de reprodução). A educação,
portanto, deve centra-se no comportamento (motor, verbal e mental) e não nos
conteúdos: os conteúdos servem, apenas, para provocar, artificialmente,
desequilíbrios: cada nível de desenvolvimento equivale a um nível de
objetividade (visão da realidade).
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A
realidade chega ao organismo através da atividade (assimilação). Para J. Piaget
a atividade de conhecer não se diferencia, funcionalmente, da atividade de
“comer”: as estruturas do comportamento (mental, verbal e motor) assemelham-se
a verdadeiros órgãos. Ora, como não
se vê sem olhos nem se ouve sem ouvidos...também não se compreende (percebe)
aquilo que não corresponde a uma estrutura (não se aprende nada inteiramente
novo). O “estímulo” só chega ao organismo (mente) se o organismo estiver
“sensibilizado” (se houver estruturas mentais a ele adequadas) para percebê-lo
(“no começo já estava a resposta” – D.E. Berlyne, Structure and direction in the
thinking, N. Y., John Willy Sons, 1955). Mas a cada assimilação correspondem
acomodações que criam novas estruturas, diversificando, progressivamente, a
capacidade de assimilar (capacidade de “perceber” novos estímulos). Não
existem, portanto, os “estímulos” do behaviorismo: a motivação é, simplesmente,
o sintoma de um desequilíbrio ou a alimentação natural (forma de estímulos) do
funcionamento das estruturas pré-existentes (os olhos precisam ser ativados
pela luz e os ouvidos pelo som, etc.). A propaganda só atinge a vítima se ela
estiver com necessidade do produto anunciado... doutra forma, as massas
depauperadas invadiriam as lojas que vendem “o admirável mundo novo”.
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Toda
atividade corresponde a uma necessidade (e a necessidade é a manifestação de um
desequilíbrio ou de uma lacuna: a dúvida, por exemplo, é uma “necessidade” ou
“motivação”: dúvida metódica como
método didático). O prêmio e o castigo são diversões para que o aluno
aprenda aquilo de que não sente necessidade (o conteúdo aprendido sob coação ou
mediante estímulo artificial torna-se uma passagem para o aluno alcançar o
objeto ou a situação de que tem necessidade: daí a aprendizagem desaparecer no
momento seguinte). Toda estrutura constituída tende a alimentar-se (assimilar),
de tal forma que, provocado o seu aparecimento, é desnecessário “ensinar”: o indivíduo
procura, espontaneamente, o conhecimento...
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Toda
estrutura em construção (classificação, seriação, partição, deslocamentos,
etc.) são fontes de interesse (a
dúvida, necessariamente, provoca reflexão, pois a mente não pode ficar em
permanente estado de desequilíbrio). Dessa forma, existe uma motivação externa (conseguir um
resultado, realizar uma construção, ter êxito – motivação afetiva – etc.), e
uma motivação interna (alcançar o
equilíbrio de uma estrutura: organização – necessidade de coerência). Entre os
reforços propostos pelos behavioristas faltou o “reforço interno”, que é de
caráter lógico.
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