segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Afinal, que é educar? 2º parte


Temas Piagetianos
AO LIVRO TÉCNICO S.A
Indústria e Comércio
Rio de Janeiro – RJ / 1984
Afinal, que é educar? 2º parte
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         Por que os professores não entendem esta sua tarefa de tão longa tradição, iniciada na pré-história? Que sociedade suicida iria pagar para a professores para destruir seus próprios valores, ritos, costumes, religião, ideologia? Muitos professores foram perseguidos, por exemplo, por ensinarem aos jovens a «evolução dos seres vivos» de um estrangeiro chamado Darwin, antes da tribo resolver aceitar esta doutrina «subversiva». E há quem se admire de, de tempos em tempos, ser necessário fazer expurgo no corpo docente para eliminar os que se desviaram das doutrinas tribais e adotaram crenças exóticas!
         Realmente: se há duas doutrinas, ou é a minha, ou é a dele! Por que meu filho há de aprender a doutrina do vizinho e não a minha? Se eu acredito que Machado de Assis foi o maior escritor do Brasil, por que vou permitir que um professor ensine que foi José de Alencar, Euclides da Cunha, Jorge Amado?! Daí o vestibular, quem não concordar com a opinião pública da tribo... não entra no reino céu, isto é, na universidade (para isso existe catecismo).
         Para que se mantenha a unidade da tribo é preciso vigiar se algum professor não anda desagregando a juventude (foi por corromper a juventude que o aerópago, uma assembleia de literatos, magistrados e sábios de Atenas, obrigou Sócrates a beber cicuta, lição que deveria ser, insistentemente, relembrada nas faculdades de formação de professores). Hoje, há uma corrente pedindo que se permita aos mestres ensinar doutrinas contrárias às tradições das tribos (escola contestadora, universidade crítica, escola selvagem, etc.). Mas que vai pagar a esses contestadores? As autoridades e as classes dominantes? Seria pedir muito... pedir que pagassem sua própria destruição! Esses contestadores são, absolutamente, idênticos aos professores iniciadores, só que a iniciação que pregam é outra... Só haveria uma forma de conciliar as coisas, deixar que as novas gerações, comparando as duas doutrinas (a da iniciação e a contestadora) escolhessem, livremente, a que preferem. Educar é desenvolver a capacidade de escolher.

Fevereiro, 1979

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Afinal, que é educar? 1º parte

Temas Piagetianos
AO LIVRO TÉCNICO S.A
Indústria e Comércio
Rio de Janeiro – RJ / 1984
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Afinal, que é educar? 1º parte
Educar: dopar, doutrinar, inculcar ou desenvolver a capacidade de escolher, de optar, de reelaborar? Afinal, qual é a melhor doutrina: a sua ou a minha? Sócrates não doutrinava: fazia (como Descartes) a dúvida metódica. Não peço licença para doutrinar: peço que se dê oportunidade de o jovem escolher.
Nas sociedades antigas (em Roma, por exemplo e entre os nossos índios) o diploma de término de curso chamava-se «iniciação». O Aurélio define assim a palavra «iniciação»: «Etimol. Cerimônia, processo ou série de processos correspondentes às diversas classes de idade, com que os jovens são iniciados nos ritos, nas técnicas e tradições da tribo, e assim preparados para a admissão na sociedade dos adultos». No mundo moderno, o processo de iniciação denomina-se «sistema escolar» e a cerimônia final chama-se «diplomação». A antiga «iniciação» era feita pelos sacerdotes, magistrados e, nas tribos, pelo pajé. Hoje, os “iniciadores” chamam-se “professores”, isto é, aqueles que professam, (propagam, preconizam, apregoam). Raro é o professor que tenha nítida consciência desta sua função. Eles pensam que ensinam matemática, inglês, física, e educação física...
É porque os professores perderam o sentido histórico da sua profissão que se criaram as cadeiras de Moral e Civismo e de OSPB. Quando os professores fracassam criam-se cargos novos para suprir suas deficiências; orientador educacional, supervisor, diretor de escola, inspetor, técnico de educação, etc. A sociedade confia que os mestres encarregados de ensinar os ritos, técnicas (profissionalização), tradições e ideologia da tribo (dos adultos que dirigem a sociedade) desempenhem leal e espontaneamente, a função que lhes foi atribuída e paga a peso de ouro (professores mal remunerados podem sabotar a tarefa que lhes foi confiada). Há professores desleais que, pagos para iniciarem os jovens na “mentalidade coletiva” da tribo (ver Durkheim), começam a incentivar os jovens a não acreditarem nos ritos, provérbios, tradições, slogans, organização social dos adultos que estão pagando seu trabalho (sociedade adulta) ... Mais: se são demitidos e perseguidos, consideram-se vítimas de injustiça! Como se vê, esses professores desconhecem, totalmente, a finalidade de sua função ou são sabotadores conscientes da estabilidade histórica da tribo (da sociedade adulta ou da ordem constituída). Há uma espécie de professor ainda mais perigoso, não cobra, rigorosamente, dos adultos (dos iniciados) a demonstração (provas e exames) de que estão preparados para entrar no corpo social adulto. O verdadeiro mestre é rigoroso e reprova, sem piedade, todos que não assimilam as tradições da tribo. Daí a necessidade de provas e exames sucessivos, com a apoteose final do vestibular, onde são escolhidos os futuros sacerdotes, guerreiros, cientistas, economistas, professores, etc. da tribo (a través de curso universitário).


Fevereiro, 1979 (continua)
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