segunda-feira, 24 de junho de 2013

O Método Psicogenético - Parte III (Pedagogia: Reprodução ou Transformação (Lauro de Oliveira Lima)


Livro: PEDAGOGIA: REPRODUÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO
Lauro de Oliveira Lima Editora Brasiliense. Primeiros Voos Nº 9 /1982
O MÉTODO PSICOGENÉTICO
Parte III
Se a inteligência, pois, desenvolve-se tanto ontogénica (individualmente) quanto filogeneticamente (complexidade do produto social), isto é, se a inteligência é uma construção histórica que, no caso da criança, acompanha seu crescimento biológico, (na medida em que o meio apresenta estimulações), a forma de educar deve ser PSICOGENÉTICA (educação pela inteligência).
O método psicogenético, pois, consiste em acompanhar, passo a passo, o desdobramento das possibilidades genéticas do crescimento das crianças para apresentar situações que estimulem a construção de estruturas “cada vez mais móveis, mais complexas, mais amplas e mais estáveis”. E em que consiste “criar condições”? Consiste em criar situações graduadas e sequenciais (de acordo com os estádios de desenvolvimento) em que o comportamento (sensório-motor verbal e mental) seja “forçado” a construir estas estruturas (equilibração entre assimilação e acomodação ou autorregulação entre o organismo e o meio: equilibração majorante). O organismo (a mente) só faz o esforço de construir novas estruturas, se entrar em desequilíbrio, isto é, se tiver que enfrentar um problema. Se não há desequilíbrio, se a situação não é nova e problemática, o organismo (a mente) tende a permanecer como estava (como é óbvio). Mas os organismos não vivem isolados (já vimos a importância da “população” no processo vital). Ora, o homem não é social (por instinto): tem que se socializar (aprender a cooperação). Desta forma a situação nova (problema) não deve ser proposta ao indivíduo, mas ao grupo. Ao resolver cooperativamente o problema, o indivíduo socializa-se. E aí temos os dois marcos fundamentais do método psicogenético: a) criar situações-problema compatíveis com o nível de desenvolvimento e b) estimular a dinâmica de grupo (afetividade, cooperação, socialização).
A atividade que se solicita do educando, pois, é inventar modelos de ação (podendo transformá-los em teorias, doutrinas, objetos, ferramentas, máquinas) e descobrir como funciona a realidade (criar, inclusive, modelos que ajudem a compreender a realidade). As disciplinas que concretizam modelos de ação são a matemática, a lógica, a moral, o direito, a política, a linguística, etc. e as que descrevem como funciona a realidade são a física, a química, a geologia, etc. e aí temos os dois polos entre os quais oscila o processo educativo: a) desenvolvimento progressivo da operatividade (subjetividade) e b) reconhecimento ou construção da realidade (objetividade). Na ultimação do primeiro processo (a) estão o pensamento operatório e o dialético. Quando ocorrem, têm por objetivo fornecer meios de ação eficazes e efetivos (êxito) ao indivíduo (comportamento procedural). O segundo processo (b) ocorrendo, tem por objetivo permitir ao indivíduo a concepção do modelo da realidade em que está inserido (compreensão – comportamento presentativo).
Mas o ser humano é capaz de a) ter desejos incompatíveis com as possibilidades de realização e b) dar interpretações imaginativas da realidade, cujo nexo é apenas a significação (“tudo pode significar tudo” = função semiótica). É o reino do vivencial e do afetivo objetivado pelo jogo simbólico (imaginação) e pelos produtos artísticos, reino em que o êxito e a compreensão são meros faz-de-conta. Por não ser objetivo este plano de ação, no deixa de ser essencial (em muitos momentos é o único que conta, como em alguns momentos lúdicos e nos altos níveis de afetividade). A educação não pode ignorar este aspecto fundamental do ser humano em que envereda na fantasia da imaginação e na onipotência dos desejos (pensamento simbólico ou função semiótica).

A construção destes modelos (sensório-motor, verbal e mental) é descrita por uma ciência denominada psicogenética. Mas quando a criança aparece no contexto histórico da vida grupal, já existe acumulado vasto arsenal de conhecimentos (em forma mental, verbal ou material), produtos culturais em suas formas terminais (não revelam, à primeira vista, o processo de sua construção: o número, por exemplo, aparece como noção sem história, o que não é verdadeiro, como se comprova). Descobrir como o conhecimento acumulado se formou ao longo da história da humanidade (como se a humanidade fosse um só homem que aprendesse, indefinidamente) constitui, hoje, uma ciência denominada epistemologia genética (história da noção de medida, por exemplo). Saber esta história ajuda, fundamentalmente, a criar situações para o desenvolvimento destas noções na criança. E aí temos as duas condições fundamentais da formação do futuro professor: psicogenética e epistemologia genética.

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