quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Colégio: esteira de produção (Parte 2)

Lauro de Oliveira Lima. Livro: Temas piagetianos.
Ed. Ao Livro Técnico
Colégio: esteira de produção
(Parte 2)
Escola ou máquina xerox? – Einstein foi um péssimo aluno – Criatividade ou padronização? – Nem palmatória, nem Pedagogia – O orientador virou psiquiatra –Qual o lugar do pensamento divergente?
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“Nada mais parecido com um colégio que uma fábrica de automóveis: a esteira de produção vai correndo, correndo e vomitando unidades”.

         Não me refiro aos professores paranoicos que chegam a criar ódio pessoal pelo aluno que não consegue domar e, no primeiro conselho de classe, proclamam “ou ele ou eu”. São casos psiquiátricos. Perigosos são os que massacram com a patrola do regulamento e reprovam 73% dos alunos, indo para as férias com o coração leve do dever cumprido! Jamais imaginam que fracassaram como profissionais, uma vez que seu objetivo não foi o de educar a criança, mas sim o de verificar se ela foi enquadrada no modelo adotado.
         Nada mais parecido com um colégio que uma fábrica de automóveis: a esteira de produção vai correndo, correndo e vomitando unidades. Lá fora, no pátio, a equipe de “controle de qualidade” (a banca examinadora) apontará aqueles que não se enquadram no gabarito mínimo. O colégio não assume qualquer compromisso de ensinar: despeja uma cascata de “salivação” e quem for podre que se quebre (é como encher 50 garrafas, aspergindo-as com uma mangueira). A tarefa de cuidar da aprendizagem fica com a família, com o professor repetidor, com a ameaça de reprovação. O diretor, um dia, chama o pai e comunica: “Seu filho vai mal”. Aí sugere que eles tomem providências... E as providências da escola? O sistema escolar baseia-se no fato de que as crianças (o ser humano) gosta de aprender. Se os alunos, de repente, não conseguem assimilar nada, o que é que falhou?
         Os diretores das escolas, geralmente, não são especializados em Pedagogia (os “particulares” especializam-se em contabilidade e os “públicos” em regulamentação). Não lhes ocorre que as escolas têm por obrigação obter bons resultados. Para os diretores, basta funcionar bem a linha de produção. Os refugos vão para a lata de lixo, Daí os diretores serem os maiores inimigos dos professores inovadores; estes atrapalham a rotina já estabelecida!
         Assisti há poucos dias, a uma reunião de “pais e mestres” cujo objetivo era comunicar que mais da metade da turma tinha sido reprovada. Cada professor (apoiado, entusiasticamente, pelo diretor) apresentava provas irrefutáveis de que os garotos eram marginais irrecuperáveis. Não entendi o que queriam dos pais... Nenhum referiu-se aos recursos psicopedagógicos que tinham usado para interessar os alunos. Ficou pacífico que sua função era recitar lições e a dos alunos decorá-las. Era como se dissessem: alinha de produção é perfeita a matéria-prima que nos fornecem é péssima. A escola antiga conseguiria ensinar com a palmatória e a vara de marmelo. Depois veio a ideia de substituir os instrumentos de tortura por pedagogia. Mas os mestres, tão eficientes com o chicote, não aprendem a “vender a sua mercadoria”. Está na hora de nomear professores, os especialistas em marketing (eles conseguem vender pente a careca).

Abril, 1979 

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

Colégio: esteira de produção (Parte 1)

Lauro de Oliveira Lima. Livro: Temas piagetianos.
Ed. Ao Livro Técnico
Colégio: esteira de produção
(Parte 1)
Escola ou máquina xerox? – Einstein foi um péssimo aluno – Criatividade ou padronização? – Nem palmatória, nem Pedagogia – O orientador virou psiquiatra –Qual o lugar do pensamento divergente?
         Einstein só começou a falar aos três anos de idade e sempre foi considerado como um “péssimo aluno” ... É provável que os alunos reprovados nos nossos colégios, salvo casos de evidente debilidade mental, sejam crianças de elevado nível intelectual. Para adaptar-se à estupida rotina da escola atual e aparecer como “bom aluno” é preciso que o jovem seja extremadamente medíocre; da mesma forma que um indivíduo bem dotado jamais se adapta a mediocridade da rotina burocrática (um bom burocrata é, por hipótese, um débil mental). Um “bom aluno”, como um bom burocrata tem que conformar-se a um processo em que não há lugar para um pensamento divergente, para a criatividade e para soluções imprevistas. O professor (como o chefe da repartição), está ali, de gabarito ou regulamento na mão, precisamente para evitar “erros”, isto é soluções novas...
         Quando meus filhos eram pequenos, adotei como política pedagógica cortar a mesada dos que tirassem notas muito altas na escola: é altamente suspeito para o desenvolvimento mental, o êxito numa escola onde o objetivo é “enquadrar” com referência a determinadas doutrinas, soluções ou formas de agir. A maioria dos professores está muito menos preocupada em produzir um novo Einstein, que em padronizar as crianças pelo parâmetro “ideal” (as escolas assemelham-se a uma máquina xerox, a cópia diferente é eliminada). Daí o prazer (mórbido) com que os professores se utilizam dos exames e das provas.

         Colocou-se dentro das escolas um orientador educacional para proteger as crianças que não se enquadram nas bitolas do regulamento escolar (tentando preservar a originalidade das crianças frente ao rolo compressor das provas-padrão). O resultado foi a criação de um novo inquisidor, farejador de complexos de Édipo, traumas infantis e outras baboseiras pseudo-freudianas. E o problema é, apenas, que o professor é incapaz de entusiasmar a criança pela matéria que leciona, isto é, pelo texto que recita como péssimo locutor. Enquanto o camelô, na avenida, é capaz de parar 100 executivos apressados, um professor não consegue captar o interesse das crianças ao descrever a história do homem neste planeta cheio de aventuras... Toda criança adora colecionar conchas, besouros, flores e, no entanto, o mestre de Biologia não consegue despertar seu interesse pelas formas vitais...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

Logicização

Livro: Piaget. Sugestões aos educadores
Vocabulário Piagetiano
Lauro de Oliveira Lima
Editora Vozes
Introdução aos conceitos fundamentais das teorias de Jean Piaget.
Conceito: Logicização

                É o processo de transformar o pensamento simbólico e intuitivo em pensamento operatório. Caracteriza-se pela reversibilidade, associatividade, comparação, identidade, etc. Pode ser prática (lógica das ações), concreta ou abstrata. Quando abstrata, é proposicional (álgebra das proposições). Sem o pensamento operatório não é possível a co-operação intelectual: discussão, diálogo, compreensão do ponto de vista do outro. A logicização é um processo de equilíbrio e começa na ação. É o equilíbrio do todo com as partes, e vice-versa, e o equilíbrio das partes entre si. Numa relação amorosa (relação entre indivíduos diferentes e, por tanto conflitual) pode-se medir não só o nível energético (afetivo), como o grau de logicização (equilibração). Observando-se o indivíduo em ação (jogando futebol, por exemplo) pode-se medir a “lógica da ação”. Não se deve, portanto, supor que a lógica seja apenas verbal. Note-se que a logicização é um processo embriológico de que a lógica formal codificada é o estado final.
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