quarta-feira, 19 de junho de 2013

O Método Psicogenético - Parte II

Livro: PEDAGOGIA: REPRODUÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO
Lauro de Oliveira Lima Editora Brasiliense. Primeiros Voos Nº 9 /1982

O MÉTODO PSICOGENÉTICO
Parte II

Suponhamos que desejássemos construir um robô com possibilidade de praticar o máximo de ações (maximização) da melhor forma possível (otimização), mas não soubéssemos que circunstâncias solicitariam dele a atualização ou combinação das ações. Em que direção dirigiríamos nosso esforço construtivo? Evidentemente, na direção de criar o máximo de possibilidades de composição de movimentos (ações) para que o robô pudesse enfrentar qualquer situação. Entre estas combinações prováveis deveria estar a possibilidade de cooperação (fato sociocultural e político). O robô mais perfeito não seria o que tivesse o mais completo elenco de comportamentos estocados, mas o que fosse capaz de fabricar – aqui e agora, de acordo com a situação – o comportamento adequado (abertura para todos os possíveis), precisamente o que ocorre no desenvolvimento da inteligência. Uma situação é letal para um organismo na medida em que ele não dispõe da possibilidade de construir o comportamento adequado para enfrentá-la. As articulações de uma bailarina podem, por exemplo, impedi-la de dançar o balé, cujas formas exijam combinações de movimentos incompatíveis com suas articulações. Educar, por tanto, é estimular o desenvolvimento no indivíduo de estruturas com o máximo de possibilidades combinatórias intensas, pois as situações imprevisíveis, da mesma forma como o máximo de organização social é a que permita alta possibilidade de combinações entre os indivíduos, na conciliação dos interesses individuais (pacto social – “lei do máximo de lucros e mínimo de perdas”.). A educação, pois nada tem a ver com a “fixação da aprendizagem” (memorização, exercitação, adestramento, aquisição de habilidades, formação, etc.) Pelo contrário, consiste na estimulação de comportamentos (individuais o coletivos) originais e flexíveis, capazes de compor qualquer solução (criatividade).
Ora, o processo intencional (por oposição ao instinto e ao hábito que são automatismos inatos ou adquiridos) de fazer combinações comportamentais (isolada ou coletivamente) chama-se inteligência: capacidade de, ante uma situação nova ou problemática (presente, passada ou futura), construir por combinação o comportamento (sensório motor, verbal e mental) que a solucione (transpor obstáculos ou vencer ameaças ao organismo). Esta capacidade combinatória intencional (ligação de meios e fins) progride do nascimento à idade adulta, em estádios sucessivos (sensório motor, simbólico, intuitivo, operatório concreto e operatório abstrato), em rigorosa sequência, buscando estruturas “cada vez mais móveis, mais complexas, mais amplas e mais estáveis”, na medida em que exista estimulação do meio. Esta progressão, em certo nível, deixa de ser estritamente individual, passando a ser coletiva (cooperação: organização social). Pode-se, pois dizer que educar é estimular o desenvolvimento da inteligência.
Para alguns, esta meta pedagógica excluiria, por exemplo, a afetividade, a moral, os ideais. Ocorre que afetividade é, simplesmente, o tônus (comer vorazmente, abraçar carinhosamente, tratar o outro respeitosamente) com que uma ação (individual, mútua ou coletiva) é praticada, constatando-se que as possibilidades de estabelecer relações afetivas (amar, associar-se, respeitar o outro, cooperar, etc.) aumentam com o aumento do nível de desenvolvimento da inteligência (sensório-motora, verbal e mental). A cooperação (organização social) e os níveis elevados de consciência moral correspondem a altos níveis do desenvolvimento da inteligência. Aliás, não seria compreensível que os níveis sucessivos de Inteligência não interferissem na afetividade, na moral, no direito, na política, etc. Seria uma “esquizofrenia” cindindo o ser humano em duas metades independentes. Toda atividade (beijar, copular, construir uma mesa, pensar, etc.) apresenta dois aspectos: a) o modelo estratégico da ação que depende do nível da inteligência do agente e b) o tônus (interesse, garra, motivação, emoção positiva ou negativa) em que a ação é feita. É evidente que comportamentos altamente operatórios exigem refinada afetividade, caso contrário o impacto das emoções primárias perturbariam a construção de as filigranas destes modelos de comportamento. A afetividade varia com o nível de compreensão que o sujeito tem da situação. Variam, pois, os níveis de afetividade de acordo com o nível de inteligência!

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