domingo, 13 de outubro de 2013

PROFESSOR - ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA... - PARTE 2

Livro: PEDAGOGIA: REPRODUÇÃO OU TRANSFORMAÇÃO
Lauro de Oliveira Lima Editora Brasiliense. Primeiros Voos Nº 9 /1982
PROFESSOR - ACIMA DE QUALQUER SUSPEITA...
Segunda parte
Na raiz da palavra educação está o étimo dux, ducis, que em latim significa condutor, general, imperador, donde os franceses denominarem o magistério de mandarinato (não se deve esquecer que educere em latim significa, também, puxar a espada). O termo mestre ligado a dominus = dono da casa) é derivado de magis (mais) indicando o especialista, mestre-de-obras, contramestre (maître penseur) que conduz, na obra, os que não têm perícia. A palavra professor (do latim profieri, ir na frente gritando, ter uma profissão) lembra o procedimento dos vaqueiros que conduzem a manada aboiando (o aboio é uma espécie de melopeia sem palavras, parecida com o cantochão, cuja função é embalar o gado tangido através das veredas das caatingas). Lente, (lector, em latim) era, na Idade Média o indivíduo que lia para os alunos analfabetos (não havendo livros, não havia interesse em aprender a ler) os pergaminhos e os papiros, religiosamente guardados na biblioteca da universidade. O lente terminava por decorar o texto, passando a recitá-lo de cor, prática que veio até os nossos dias e que parece muito mais “brilhante” que as que usam ainda a sebenta, hoje transformada (sic) em “fichas de consulta” ou em retroprojetor... O professorado não tomou conhecimento da descoberta do poder multiplicador da imprensa e seus derivados (mimeógrafo, gravador, xerox, etc.) continuando a expor, oralmente, lições como faziam seus companheiros medievais que só dispunham de recitação. Desta forma os alunos não chegam sequer a aprender a ler... Instrutor (instruere), era entre os romanos, aquele que punha o exército em ordem de batalha, motivo talvez por que se reservou o termo para os professores de educação física e para os mestres de ofício. O termo mais comum, hoje em dia, para o processo pedagógico é ENSINO, tendo-se abandonado a expressão EDUCAÇÃO. Ensinar (do latim, in signum) significa “dar ou colocar um sinal”, cunhar ou assinalar algo, ato parecido, grosseiramente, com a atividade dos pecuaristas que marcam com ferro em brasa sua criação (e note-se que criação e criança têm a mesma etimologia. A diferença entre o “assinalamento” (marcação) do gado e o “ensinamento” (educação da criança) é que, em vez de ferro em brasa, os professores marcam os educandos com medalhas, notas e diplomas... É que a educação deixou de ser “criação” (nos dois sentidos do termo) para ser “diplomação”. O diploma é, precisamente, o documento que “assinala” (dá um privilégio) novidade histórica que só aparece no sistema escolar quando se torna mais nítida a divisão da sociedade em classes (o diploma passou a funcionar como “sinal” – ensino -  de “nobreza”). Mas só as autoridades tradicionais podem dar diploma (privilégios), donde a expressão catedrático aquele que senta na cadeira (cátedra) como imperador. Já não se trata, pois, de conduzir a tropa (educere), pois a guerra acabou mas da distribuição de benefitia (privilégio) feita pelo suserano, segundo seus caprichos (e como são caprichosos os professores, cada um com suas idiossincrasias). Como se tornam petulantes e enfadados quando estão certos do seu poder! Parecem o imperador, no circo, decidindo com o polegar para baixo quem deve morrer... Aprender (aptendere) é “pegar no ar” algo que foi jogado, como se faz quando alimentam-se os cães: joga-se o naco de carne para ser abocanhado, num pulo pelo animal. O professor joga, também, o “ensino” no ar, e o aluno que “apreenda” (aprenda) se quiser e como puder... Nenhuma semelhança com a mãe que ensina o filho a andar e/ou com o mestre que ensina o ofício ao aprendiz: os exames garantirão a eficiência do conferencista...
Através de todos os tempos e em todos os lugares, o professor foi sempre um tiranete que, inclusive, podia punir fisicamente seus discípulos, isto é, aqueles que estão sendo disciplinados (em latim, disciplina significa tanto ordenação como a “matéria” que se ensina). Se perguntarmos aos professores o que mais esperam de seus alunos, responderão uníssonos: respeito (e respeito, em latim, significa olhar para trás, demonstrando medo) quando seria de esperar-se que preferissem ser amados pelos alunos. A suprema ofensa dos alunos aos mestres é desrespeitá-los, isto é perder o temor a eles e passar a trata-los como parceiros. A virtude que mais se caracteriza é a autoridade, ato de tomar posse de algo ou de alguém. A hipótese seria que se estabelecesse um cordão umbilical entre o aluno e o mestre (aluno significa, em latim, aquele que é alimentado). Mas como amamentar um ser que nos teme?
Mais que conhecimento da matéria, o mestre exige do aluno bom comportamento (bem-comportado não é só aquele que transporta coisas com cuidado, mas também aquele que está “parado no porto” ou “por trás das portas” notando-se que, modernamente, a palavra comporta significa imensas placas de ferro que impedem o fluxo das águas de uma represa.)
Todos os ditadores têm, invariavelmente, cuidado com a “educação” dos jovens (meio de perpetuar sua ditadura) introduzindo no curriculum, sempre, esta disciplina denominada “moral e civismo” espécie de RDE (regulamento disciplinar do exército) para as novas gerações. A rebeldia é a suprema falta para os tiranos, e o bom “comportamento”, o objetivo final da educação, donde deve ser conduzida por um capataz. O professor foi sempre um chefete ou cacique com a agravante de exercer seu poder sobre crianças, o que se assemelha caricaturalmente à autoridade do EUNUCO sobre as odaliscas do harém do sultão. Muitos professores agem como condottiere ou führers frustrados (como os síndicos dos prédios de apartamentos) que exercem sua vocação em situação de “faz-de-conta” (“cachorro em curral de bezerros” - como diz, pitorescamente, um romancista conterrâneo). Em vão alguns educadores propuseram, há muito tempo, a adoção do self-government república escolar ou governo autônomo como método de disciplina: estes mandarins jamais abdicariam deste seu reinado de Gulliver no país dos anões...

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