quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Professor, espécie em extinção (Parte 1)

Livro:TEMAS PIAGETIANOS
Lauro de Oliveira Lima
EDITORA AO LIVRO TÉCNICO S.A
Indústria e Comércio
Rio de Janeiro – RJ / 1984
Professor, espécie em extinção (1ª parte)
Com a descoberta da imprensa, começa a extinção da função de professor
- O professor do futuro será uma fita cassete? – O programa é sintoma de arcaísmo- A bola ou o jogo? – O conteúdo ou a operação? – Motricidade e o grupo de deslocamento – Os paidagogos gregos e o magister ludi romano – A memória da inteligência
         A tendência geral do desenvolvimento tecnológico é substituir a atividade humana pelas máquinas. Se assim é, pode-se prever que a função do magistério será substituída por circuitos de televisão? No dia em que se pôs no mercado a máquina fotográfica, a arqueológica pintura ao natural, perdeu toda a sua funcionalidade, da mesma forma que a profissão do copista (escriba) foi extinta pela imprensa de Gutenberg. A introdução de um computador num banco, por exemplo, elimina uma dezena de funções tradicionais (o contabilista está perdendo terreno a olhos vistos). Mês passado, no Ceará, vi quarenta mil alunos regulares receberem aulas em suas classes, de uma estação de televisão. Cada classe tem um orientador especialista em dinâmica de grupo que estimula os alunos a praticarem as atividades sugeridas pela televisão, com a agravante de as aulas funcionarem, em perfeita ordem, quando o orientador falta.

HISTÓRICO
         O paidagogos, na Grécia heroica e na Roma Imperial, era o escravo que (como a babá de nossos dias) passeava com a criança e a levava à escola, ensinando-lhe etiqueta. O mestre (magister ludi) tinha por função, numa primeira etapa (trivium), ensinar o manejo da língua (gramática, retórica e dialética) e, numa segunda (quadrivium), exercitar a criança no cálculo e nas artes matemáticas (aritmética, geometria, música e astronomia), atividades, hoje, típicas do jardim de infância. Com o advento do cristianismo, as escolas (raríssimas) passaram a funcionar em conventos e paróquias, orientadas para a catequese (modalidade escolar que os jesuítas, com atraso de alguns séculos, trouxeram para o Brasil), com a instituição das universidades (lá pelo ano 1.000), a função de magistério passou a confundir-se com a de lector (aquele que sabia ler os manuscritos cujo conteúdo os alunos analfabetos precisavam aprender).
         Neste ponto, parou a evolução da função do mestre. Os professores não tomaram conhecimento, nem da descoberta da imprensa (divulgação em massa dos manuscritos arquivados nas universidades) nem da generalização da alfabetização (dispensando, portanto, o serviço precioso dos lectores). Ainda hoje os professores comportam-se como se os alunos fossem analfabetos e como se não houvesse livros disponíveis. É muito comum a aula expositiva denominada, na gíria pedagógica de aula de salivação. Este tipo de professor é um fóssil, uma espécie em extinção. Se a função do professor é expor determinado conteúdo (informar), consegue-se isto, com mais eficiência, através de um pequeno banco de cassetes. A função de informação já não é tarefa do professor, mas dos livros, do rádio, da televisão, do computador, da máquina de calcular, do banco de dados, etc. Dificilmente, o professor pode concorrer com estes modernos instrumentos de difusão de conhecimento, sobretudo, porque estes instrumentos podem captar a informação no mais alto nível disponível e atingir, instantaneamente, milhões (satélites artificiais). A aula-conferência, hoje só se justifica para as grandes sínteses (aula de sapiência) e os simpósios (comunicação de informação ainda não disponível nos bancos de dados). É especialidade das vedetes intelectuais encarregadas de agitar a inércia dos centros de transmissão de conhecimentos. (Continua...)

Outubro, 1978 



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