quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Imaturidade das Relações Heteronômicas


Artigo autoria Lauro de Oliveira Lima
extraído do livro "Escola Secundária Moderna" - Editora Forense Universitária
11a. Edição


1.
Quando as relações entre mestre e aluno são, simplesmente, de submissão (obediência, disciplina, ordem), a própria dinâmica psicológica de sobrevivência e independentização gera a oposição, que pode chegar a revolta. Toda a vida escolar, neste caso, tende a desenvolver-se em torno da “contenção” (obediência) desta resistência passiva (ou mesmo manifesta), desviando o processo escolar do objetivo de aprendizagem para um problemática conflitual de base puramente emocional. O trabalho em equipe coloca as relações “mestre x aluno” em bases inteiramente diferentes, tornando sem sentido  a oposição e quebrando o círculo vicioso de ação (mestre) - reação (aluno). O professor deixa de ser um “domador” para ser um perito.

2.
Enquanto o professor cujo processo didático se baseia na relação direta “mestre x aluno” (sem o intermediário do grupo) tem que, ele mesmo, provocar motivação, estimulação e controle, aquele que usa o trabalho de equipe tem, nele mesmo (no trabalho), seu instrumento espontâneo  de condução da vida escolar intensa e auto-regulada. O grupo é, intrínsicamente, dinâmico e ordenado, por caminhar para um objetivo que o justifique e por autocontrolar a ação individual de seus membros, para sobreviver como grupo. Cada membro do grupo representa um desafio saudável para os demais.

3.
No trabalho em equipe, o professor deixa de ser o “feitor”que mantém a disciplina com mão-de-ferro, por exigência do método expositivo, para ser  orientador que circula, de equipe em equipe, oferecendo ajuda e orientação e observando os pontos fracos de cada aluno. O próprio método descomprime a pressão que gera a revolta, o distúrbio e a indisciplina. A preocupação com a cooperação mútua utiliza as cargas emocionais no sentido positivo.

4.
O trabalho em equipe é o único que permite ao professor contatos individuais com os alunos, uma vez que fica grande parte da aula livre para acompanhar a atividade de cada um dentro da equipe. No  método expositivo, por exigência do próprio processo, terá que tomar a classe como “massa indiferenciada”, falsamente homogênea. No trabalho em grupo, o professor pode observar a produtividade de cada um.

5.
O trabalho em equipe é o único que permite ao professor verificar, automaticamente (sem necessidade de testes e provas), o progresso intelectual do aluno em cada momento da aprendizagem. Na aula expositiva, é imprevisível o que se passa no psiquismo do aluno que, só por hipótese, deve estar “atento e interessado” na exposição. É, portanto, um processo empírico e aleatório, sem controle real, o método expositivo. No trabalho em grupo, são eliminados os exames e as provas, recurso indispensável no método expositivo.

6.
Mesmo que o educador, habilmente, baixe ao plano vivencial do adolescente, jamais será aceito senão como um elemento de fora que tenta violar a intimidade grupal. Melhor faria ele agindo, indiretamente, através dos líderes naturais, sempre e necessariamente existentes em todo grupo. Não gostam os jovens de promiscuidade: querem o professor com o professor e orientador, embora como amigo também.

7.
Se os educadores deixam de reconhecer a vida grupal dos adolescentes, nem por isso deixa ela de existir com toda a sua exuberância. Se este fenômeno natural sofre pressão (como na vida individual), recalca-se e explode em forma de comportamentos anti-sociais, dominados pelo negativismo, a oposição e com tremenda dinâmica e coesão, como se observa nos “bandos” pré-delinquentes e nas “gangs” francamente anti-sociais. Antes que a coação leve os jovens para os grupos delinquentes, a escola usa em seu proveito a vida grupal.

8.
A falta de oportunidade de discussão e de intercâmbio revela a hipertrofia da chefia, o que leva à subordinação emocional e intelectual, preparando o indivíduo, no plano político, para a ditadura e, no plano intelectual, para o argumento de autoridade - oposto ao espírito científico. Sociologicamente, leva a comunidade ao imobilismo por falta de oportunidade de criação e reestruturação dos fatos, uma vez que a chefia hipertrofiada teme a discussão e impõe o argumento  de autoridade para se autoconservar. A liberdade física, emocional, intelectual e política precisa ser aprendida na vida cooperativa do grupo. Tudo no homem é aprendido, até a ser escravo ...

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